A CPMI do INSS encerrou sua última sessão antes do recesso de fim de ano com uma decisão que pode definir o rumo da investigação: por 19 votos a 12, rejeitou a convocação de Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha, e por 19 a 11, a de Jorge Messias, advogado-geral da União e nomeado para o Supremo Tribunal Federal. A sessão, realizada em 4 de dezembro de 2025 no plenário 3 da Ala Nilo Coelho, em Brasília, foi marcada por tensão, acusações cruzadas e um claro recado: a base governista não permitirá que a comissão se torne um palanque eleitoral.
Um requerimento que não resistiu à realidade política
O pedido para ouvir Lulinha veio do deputado Marcel Van Hattem (Novo-RS), líder da oposição na comissão. Ele alegou que uma testemunha sigilosa, que teria participado do esquema de fraudes, afirmou que Antônio Carlos Camilo Antunes, o "Careca do INSS", repassava R$ 300 mil por mês ao filho do presidente Lula. A informação, segundo Van Hattem, teria sido confirmada por registros do Coaf, que detectou transferências de R$ 8,4 milhões de uma empresa suspeita para Ricardo Bimbo, dirigente petista, que, por sua vez, pagou um boleto ao contador de Lulinha. Mas aqui está o ponto crucial: ninguém apresentou prova direta de que Lulinha sabia, autorizou ou beneficiou-se desses valores. A conexão é indireta, fragmentada. E a base governista, com 19 dos 31 votos na CPMI, não se deixou levar pela narrativa sensacionalista. "Não vamos transformar a comissão em arena para disputas eleitorais que nada têm a ver com a fila do INSS", disse um integrante da base governista, citado pelo Horadopovo.com.br.Por que Jorge Messias virou alvo?
Enquanto Lulinha era o nome da moda nas redes, o requerimento contra Messias surgiu como um contra-ataque mais técnico, mas igualmente estratégico. O senador Magno Malta (PL-ES) acusou a Advocacia-Geral da União de ter bloqueado bens de 12 empresas de fachada envolvidas no esquema — mas omitido o Sindnapi, sindicato cujo vice-presidente é Frei Chico, irmão do presidente Lula. A resposta da base governista foi direta: a AGU atuou dentro da lei. E o fato de uma entidade ter sido excluída do bloqueio não prova má-fé — pode ser falta de evidência, erro técnico ou até mesmo uma disputa jurídica em andamento. A senadora Eliziane Gama (PSD-MA) foi categórica: "É mais uma tentativa, mais uma, da oposição de desviar o foco da investigação, de confundir a opinião pública. O ministro Messias merece todo o nosso respeito."A verdadeira prioridade: as filas que ninguém quer ver
Enquanto a oposição tentava criar escândalos, a CPMI continuou seu trabalho técnico. Aprovou a convocação do governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG), para esclarecer vínculos da empresa Zema Crédito com contratos do INSS. Rejeitou, porém, convocações de Leila Pereira, presidente do Palmeiras e executiva do Banco Crefisa, e de diretores do Santander, C6 Bank e PicPay — todos alvos de especulações sem base concreta. O foco real continua sendo o que sempre foi: o esquema que desviou R$ 6,3 bilhões de benefícios previdenciários por meio de sindicatos e associações que descontavam mensalidades de aposentados sem autorização. Em outubro de 2025, havia 1,242 milhão de requerimentos acumulados. Em novembro, eram 1,15 milhão apenas de aposentadorias e auxílios-doença pendentes. Isso é o que afeta milhões de brasileiros. Isso é o que importa.Prorrogação e o fim da estratégia política da oposição
O presidente da CPMI, Carlos Viana (PSD-MG), anunciou que pedirá prorrogação dos trabalhos por mais 60 dias, estendendo o prazo de encerramento de 15 de março de 2026 para maio de 2026. "Nós não vamos dar conta de ouvir todo mundo que deveria apenas com o prazo atual", disse ele. A justificativa é técnica — e inevitável. Já foram ouvidas 47 testemunhas, incluindo o ex-coordenador-geral de Benefícios por Incapacidade do INSS, Vinícius de Souza, conduzido coercitivamente em 28 de novembro. O relator, deputado Jhonatan de Jesus (PL-RR), revelou que quatro depoentes receberam R$ 10 milhões em repasses irregulares — mas não foi revelado quem são. Ainda há muito a desvendar. E a oposição, com seus requerimentos rejeitados, perdeu o principal instrumento para tentar desgastar o governo: a convocação de figuras políticas de alto impacto.O que vem a seguir?
A CPMI agora avança com calma, mas com firmeza. O próximo passo é analisar os relatórios de auditoria interna do INSS, cruzar dados com o Tribunal de Contas da União e ouvir os gestores que assinaram os contratos de terceirização. O relatório final, previsto para maio, pode resultar em denúncias criminais, cassações de mandatos e até mudanças estruturais na previdência. A oposição tentou transformar a CPMI em um tribunal de opinião. Não deu certo. O que sobrou foi uma investigação séria, focada no que realmente importa: o direito dos aposentados de receberem o que lhes é devido — e sem filas.Frequently Asked Questions
Por que a convocação de Lulinha foi rejeitada se há indícios de pagamentos?
A rejeição ocorreu porque, apesar das suspeitas, não há prova direta de que Lulinha tenha recebido ou beneficiado-se dos valores. As informações vêm de testemunhas sigilosas e transferências indiretas, sem ligação concreta. A base governista argumentou que isso não configura crime nem está dentro do escopo da CPMI, que investiga fraudes operacionais, não supostas relações familiares.
O que a AGU fez de errado, segundo a oposição?
A oposição alega que a AGU bloqueou bens de 12 empresas envolvidas no esquema, mas deixou de lado o Sindnapi, sindicato cujo vice-presidente é Frei Chico, irmão de Lula. Porém, não há evidência de que essa exclusão tenha sido intencional. A AGU atua com base em provas — e, se não houver indícios suficientes contra o sindicato, não pode bloquear seus bens. A acusação é política, não jurídica.
Quantos beneficiários ainda estão esperando seus benefícios?
Em novembro de 2025, havia 1,15 milhão de pedidos pendentes de aposentadorias, auxílios-doença e benefícios por incapacidade. Isso representa um aumento de 27% em relação ao ano anterior. A CPMI aponta que o esquema de fraudes, que movimentou R$ 6,3 bilhões, contribuiu diretamente para essa crise, ao desviar recursos destinados ao pagamento de benefícios.
Por que a CPMI pediu prorrogação?
A comissão já ouviu 47 testemunhas e ainda precisa analisar documentos de 18 sindicatos, 12 empresas de fachada e os relatórios do TCU. O prazo original de 7 meses era insuficiente. A prorrogação de 60 dias permitirá ouvir gestores do INSS, peritos e ainda examinar transações financeiras complexas que exigem análise contábil detalhada.
Quem são os principais suspeitos ainda não convocados?
O relator Jhonatan de Jesus afirmou que quatro pessoas receberam R$ 10 milhões cada em repasses irregulares — mas não revelou seus nomes. Entre os possíveis alvos estão ex-dirigentes do INSS, empresários ligados a sindicatos e contadores de empresas de fachada. A CPMI ainda precisa investigar o papel da Receita Federal e da Polícia Federal nesse processo.
A CPMI pode resultar em processos criminais?
Sim. A comissão já encaminhou 12 processos à PGR e à Polícia Federal, com base em depoimentos e documentos. Os principais alvos são os operadores do esquema, como Careca do INSS, e os empresários que criaram empresas de fachada. Caso a CPMI comprove fraude, lavagem de dinheiro ou corrupção ativa, os envolvidos podem ser indiciados e, eventualmente, presos.

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