Nem bastidor agitado, nem negociação silenciosa. Hugo Motta, presidente da Câmara dos Deputados, deixou bem claro nesta quinta-feira que não fechou nenhum acordo com parlamentares oposicionistas para votar projetos polêmicos, como o da anistia ou o fim do foro privilegiado, em troca do fim da ocupação da Mesa Diretora. A tensão dominou o Congresso nas últimas 48 horas, depois que deputados de oposição decidiram protestar contra a prisão domiciliar de Jair Bolsonaro ocupando o espaço destinado à presidência da Casa.
O episódio virou assunto principal em Brasília. Deputados contrários ao governo iniciaram o protesto ainda na terça-feira, de olho em pressionar Motta a colocar em votação pautas que carregam consigo desde a campanha — e que, segundo eles, eram compromisso pessoal do presidente da Câmara. "A presidência da Câmara é inegociável", disse Motta já cedo, cravando que não haveria concessão e nem tratativas obscuras nos bastidores. Segundo ele, sua responsabilidade é zelar pela instituição, não atender a pressões com trocas políticas pontuais.
A oposição, liderada por aliados do ex-presidente Bolsonaro, não arredou pé tão fácil. Só aceitaram desocupar a Mesa após horas de negociação e mediação de Arthur Lira, ex-presidente da Casa. Lira precisou intervir pedindo bom senso dos deputados e convencendo a bancada bolsonarista a recuar sem que nenhum projeto fosse pautado em troca. O clima ali foi de desgaste, olhos atentos de várias frentes partidárias e trocas duras de acusações nos corredores.
Mesmo depois do fim do protesto, a temperatura continuou alta. Motta afirmou aos jornalistas que vai tomar medidas contra quem resistiu em abandonar o espaço da presidência, mesmo após o acordo. Nos bastidores, há discussão sobre punições e possível encaminhamento ao Conselho de Ética contra os deputados mais combativos desse grupo. A ideia é mostrar que a presidência não aceita chantagem nem invasões ao rito da Casa.
Nos últimos anos, a Câmara dos Deputados já foi palco de muitos embates e protestos. Mas a ocupação desse tipo, envolvendo pautas como a prerrogativa de foro privilegiado e projetos de anistia que impactam diretamente parlamentares aliados de Bolsonaro, colocou a Casa em alerta máximo. O entendimento de Motta é que ceder às pressões abriria brecha perigosa na relação entre presidência e bancada. Ele seguiu também negando qualquer promessa de votar pautas polêmicas na sequência.
A oposição, por sua vez, insiste publicamente que Motta teria acenado à possibilidade de pautar essas medidas, o que ajudou a acalmar parte da base mais radical. Nos corredores, aliados de Motta reforçam que o esforço foi só para tirar o Congresso do impasse e retomar as votações normalmente — sem atender exigências. Do lado do governo, o sinal é de que há apoio à postura mais rígida do presidente da Casa, demonstrando que a instituição não se curva a pressões organizadas do plenário.
O episódio reacendeu o debate sobre o poder da presidência da Câmara e o quanto a pressão de grupos parlamentares pode ou não influenciar as pautas legislativas prioritárias do país. Para quem vive o dia a dia político, ficou claro que Motta busca marcar território e não aceitar ser refém de disputa política, principalmente quando o assunto envolve temas tão sensíveis e ligados à polarização recente no Brasil.
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